Quem sou eu

Creche da Rede Municipal de Educação do Rio de Janeiro

Textos



Projeto de 2011 - Estimulação
                               EI-30 - Brincando de soldado
O brincar, o letramento e a arte como eixos da
estimulação do desenvolvimento infantil

       O Referencial Curricular Nacional  para a Educação Infantil (MEC, 1998) estabeleceu a brincadeira como um de seus princípios norteadores, que a define como um direito da criança que garante seu desenvolvimento, sua interação social, além de situá-la na cultura que está inserida.         É importante salientar que a brincadeira possui um lugar fundamental no desenvolvimento infantil, seja por seus benefícios imediatos ou de longo prazo. A importância da brincadeira pode estar relacionada a aspectos do desenvolvimento cognitivo, social, afetivo e físico. A criança não brinca para se desenvolver, mas ao brincar acaba por ter influências no seu desenvolvimento geral e em sua aprendizagem.
      Froebel concebe o brincar como atividade livre e espontânea, responsável pelo desenvolvimento físico, moral e cognitivo; e os brinquedos como objetos que subsidiam as atividades infantis.
       O brincar é defendido como um direito, uma forma particular de expressão, pensamento, interação e comunicação entre as crianças. Desta forma propomos uma atuação e estimulação do desenvolvimento onde o brincar seja o centro do processo. Neste projeto estimular será sinônimo de brincar. 
      Para Bettelhein brincar é muito importante: enquanto estimula o desenvolvimento intelectual da criança, também ensina, sem que ela perceba, os hábitos necessários a esse crescimento.Toda criança que brinca vive uma infância feliz, além de tornar-se um adulto muito mais equilibrado física e emocionalmente, conseguirá superar com mais facilidade, problemas que possam surgir no seu dia-a-dia. A criança privada dessa atividade poderá ficar com traumas profundos dessa falta de vivência. Quando a criança brinca está vivenciando momentos prazerosos, além de estar desenvolvendo habilidades.

      No que diz respeito ao letramento como estratégia de estimulação do desenvolvimento das crianças na creche,  a leitura  é também uma forma bastante rica do brincar .  Desde os primeiros meses, é importante colocar livros, de plástico ou tecido, no meio dos brinquedos do bebê, para que comece a se familiarizar com estes.
 É um erro afirmar que seja  nulo o impacto da escrita e leitura  que permeiam o mundo social, nas crianças pequenas. A  presença da escrita afeta a criança desde cedo.A escrita faz parte do mundo onde essa criança está inserida observando as práticas letradas do adultos — como anotar recados, lendo revistas, jornais,, contando histórias, fazer contas, ler correspondência — e  compartilhando, de modo informal, das funções dos textos que circulam nas situações cotidianas de seu grupo social, e na creche .     
       É vã tentativa de manter esse mundo fora do alcance da criança, porque ela ainda não lê e escreve. É uma censura  precoce e inviável do que ela pode ou deve perceber, prestar atenção, querer ou  entender.
            Os livros servem, num primeiro momento, para que o bebê tenha acesso a estímulos variados; adiante, vão servir para que escute o adulto contar-lhe histórias, que por mais simples que sejam, lhe ajudarão a começar a relacionar as figuras com seus nomes, ampliando seu vocabulário.
              A “ Caixa de leitura”  é o espaço da creche especialmente planejado para que as  crianças sejam estimuladas a inventar, ler, ouvir e contar histórias. A narrativa para crianças pequenas envolve todas as oportunidades de interação que a criança tem com o seu mundo imaginário e é fator básico para formar futuros leitores. Ouvir e ler histórias de várias formas, fazer de conta, dramatizar com fantoches as leva a conhecer o mundo  apreender melhor a realidade.
           


Outro eixo importante é a arte que 
 transmite bem- estar e tranqüilidade 
ao bebê, desde a gestação.
Na Creche Yara Amaral temos a “ Caixa de Música” que é um espaço especialmente organizado para que a criança seja estimulada a ouvir diferentes ritmos (lento/rápido), sons graves e agudos, sons da natureza, sons de animais. Reproduzir sons com o próprio corpo (bater palmas, abrir e fechar a boca). Reproduzir movimentos com o corpo com o auxílio de música (esquema corporal, psicomotricidade). A criança poderá reproduzir sons e ritmos com o auxílio de instrumentos de bandinha que podem ser industrializadas ou confeccionados com sucatas.
       Acompanhar uma música juntamente com os colegas também ajuda a criança a sentir-se pertencendo ao grupo.
            Não podemos deixar de valorizar e proporcionar às crianças a convivência com o repertório de músicas pertencentes ao nosso patrimônio cultural.
A estimulação infantil com músicas proporciona diversos benefícios:
  • Estimula o desenvolvimento da linguagem oral,
  • Favorece habiliddes e competências  ligadas à aquisição da leitura e escrita;
  • Desenvolve o raciocínio lógico;
  • Auxilia no aprimoramento da coordenação motora;
  • Estimula a sociabilização;
  • Amplia a capacidade de concentração e comunicação da criança;
  • Oportuniza o  desenvolvimento dos vínculos afetivos.


     O projeto atingirá os profissionais para que,  com a tarefa de  educar  planeje brincadeiras, ordene melhor os espaços, confeccione materiais, facilite o acesso aos brinquedos, livros, revistas, música, artes, e  demais elementos para que a criança simplesmente brinque.
Ao  brincar  sozinha,  com seus pares e  também com o educador a criança amplia seu universo.  O educador precisa entrar na brincadeira e brincar junto. Assim terá a oportunidade para conhecer  potencialidades, perceber  dificuldades das criança e assim estando próximo, planejar com critério os estímulos adequados e necessários em cada situação.

Os estímulos

“(...) não se passa do mundo concreto para a representação mental senão por
intermédio da ação corporal. A criança transforma
 em símbolos aquilo que pode explorar corporalmente:
o que ela vê, cheira, pega, chuta aquilo
 de que corre e assim por diante.” (FREIRE, 1978);

ESTÍMULOS AFETIVOS / RELACIONAIS

Nesta área, é importante destacar o equilíbrio emocional e a sociabilidade da criança. Está voltada para as demonstrações de carinho e afetividade com todos que os rodeiam, amigos da  creche, educadores e familiares, bem como, suas preferências em brincadeiras, sejam elas sozinha ou em grupo, juntamente com suas vivências. É a parte da emoção no sentido amplo, é o lado do afeto. Julgamos ser a área na qual todo o cuidado e dedicação se fazem necessários. É importante levar em consideração as vivências familiares, valores e suas relações. Ao trabalharmos a área afetiva, estamos procurando oportunizar um ambiente, no qual a criança possa se desenvolver, expressando seus sentimentos e emoções através de vínculos criados entre a criança, educadores e seus colegas, bem como, todo seu envolvimento nas atividades diárias da creche. Esta área está diretamente ligado a auto-estima e auto-imagem da criança, envolvendo todas as relações, juntamente com o meio em que está inserida. A creche  proporcionará atividades, que contribuam para a construção da individualidade e sociabilidade, da criança, mantendo vínculos afetivos bem como comportamentos de ligação, associados e estímulos diretos, no que se refere a sua adaptação, relacionamento e sexualidade. Aconchegar a criança, cantar para ela e fazê-la perceber que é querida é um fator muito importante para promover a ligação entre os neurônios, sua identidade e auto estima.        
        O diálogo deve ser proporcionado em qualquer idade, pois isto influência no saber escutar, falar, reconhecer afetivamente todos do grupo e facilita, também, o desenvolvimento da criança e seu relacionamento com outras pessoas.

A “ Roda de Conversas” permite que todos tomem consciência do grupo e do seu meio ambiente; esta pode ser realizada desde o berçário, com as crianças sentadas e os bebês no colo ou com apoio. Este é um momento em que a criança observa, imita, reage, fala e se manifesta de  diferentes formas e, de acordo com seu desenvolvimento. Além disso, é nesta hora que podemos dar bom dia/boa tarde, um abraço, um aperto de mão,cantar, contar história, conversar sobre a rotina, elaborar juntas as regras, etc.

ESTÍMULOS FÍSICOS
          É através do conhecimento do seu corpo e do domínio de seus sentimentos, que a criança poderá evoluir no processo educativo, explorando o mundo através de jogos e atividades lúdicas, diferenciando assim, noções espaciais, posturas, coordenação do corpo, formas e qualidades. Esta área está diretamente ligada a área cognitiva. As atividades visam trabalhar os grandes músculos (motricidade ampla), como correr, saltar, deitar, caminhar, rolar sobre o corpo, subir e descer escadas com ou sem apoio, desenvolver o equilíbrio, organização corporal, coordenação, noções de espaço e tempo, freio inibitório, expressão corporal. Usa também desenvolver a motricidade fina, como atividades de modelar, pintar, recortar, amassar, rasgar, enroscar, abrir e fechar, movimentos de pinça e preensão.
           Acreditamos que as atividades motoras realizadas, oportunizem as crianças uma melhor adaptação ao ambiente social. Sendo assim, elas devem ser estimuladas no seu meio ambiente com oportunidades, motivação e instrução de atividades que possam auxiliar o pleno desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais. As  brincadeiras devem ser vistas pelo educador como fator essencial para esta estimulação física.

Passeios, parquinho e areia, para experimentar, visualizar, deslocamentos entre os diferentes espaços da creche para  exploração e vivências: correr, subir e descer escadas, escorregar, pular, se esticar, usar o balanço,  passar dentro do túnel, rolar, brincar de roda, correr em circuito com obstáculos e demais brincadeira livres e/ou dirigidas.
Na Creche Yara Amaral temos a” caixa aberta”  está assim dividida para a estimulação física :
Caixa externa – Parquinho com brinquedos de madeira. Brincadeiras livres  e dirigidas.
Caixa interna – Parquinho( em baixo da escada) com brinquedos de plástico, casinha e  incluindo o velotrol, exploração do corredor e piscina de bolas. Brincadeiras livres  e dirigidas.
Caixa interna – Espaço perto da secretaria. Jogos diversos, bambolês, música, etc.
Parquinho da entrada – Parquinho. Brincadeiras livres  e dirigidas.
Solários – Banho de sol durante as brincadeiras livres  e dirigidas. Banho de piscina no verão.


ESTÍMULOS COGNITIVOS
          A área cognitiva refere-se diretamente aos conhecimentos e aprendizagem da criança. É nesta área, que a criança adquire noções básicas com relação a si mesma e do mundo que acerca. Está ligada ao comportamento, ao reconhecimento, as percepções e atitudes da criança. Engloba a parte gráfica, verbal, gestual, as gnoses, percepções e aquisições pedagógicas.  É necessário dar condições à criança de vivenciar experiências, fazendo com que interaja com o meio no qual está inserida, sendo estimulada para que através de suas vivências, baseadas na constante troca de informações no grupo do qual faz parte, ela consiga elementos, que lhe auxiliem diretamente na construção do seu próprio conhecimento. A postura da creche está justamente voltada para este aspecto, o de facilitar e proporcionar um ambiente sadio, estimulante e motivante, a fim de que a criança desenvolva, seu potencial . É importante lembrar que a criança constrói o seu conhecimento através de sua interação com o meio físico e social.
     Na Creche Yara Amaral a “Caixa do MONTA MONTA” é um espaço especialmente preparado para estimula estímulo cognitivo das crianças com material para desenvolvimento do raciocínio através dos brinquedos pedagógicos. A criança ao ter contato com os brinquedos reconhece umas coisas, descobre outras, experimenta e reinventa; analisa, compara e cria. Através da experimentação a criança aprende a controlar seus movimentos e a estabelecer ordem em seu mundo através de novos esquemas mentais que se desenvolvem.

ESTÍMULOS SENSORIAIS
É através de um equipamento ainda imperfeito – os órgãos dos sentidos – que a criança começa a estabelecer os primeiros contatos com o mundo. Desse equipamento sensorial e dos estímulos captados por ele vai depender todo o seu relacionamento com o novo ambiente. Os estímulos sensoriais envolvem o auditivo, visual, olfativo, tátil e gustativo. Eles envolvem  ações que desenvolvem as sensações, as sensibilidades internas e externas da criança. Pelos sentidos a criança vai tomando consciência do mundo e de si mesma. Proporcionar à criança estímulos constantes e adequados é a forma de desenvolver satisfatóriamente os órgãos do sentido. Nossa proposta é proporcionar às crianças da Creche Yara Amaral estímulos constantes e adequados de  forma a desenvolver satisfatóriamente os seus sentidos.

       A divisão proposta acima  tem fim meramente didático. As diversas áreas são independentes e na prática não podemos separá-las, pois a criança é uma totalidade.



Exercício cerebral

Novos estudos revêem a teoria de que as crianças têm
uma idade rígida para desenvolver suas habilidades
Por que as crianças gostam de dançar?
Pela mesma razão que gostam de pular. As crianças estão passando a controlar o próprio corpo e os movimentos da dança funcionam como um treinamento
Há dois anos uma novidade divulgada por alguns neurologistas americanos mudou a compreensão que se tinha do funcionamento do cérebro humano. Descobriu-se que os primeiros anos de vida poderiam ser essenciais para estimular o interesse da criança por determinadas atividades. Haveria uma idade certa para fazê-la se interessar por língua estrangeira, por música, esportes. Chamou-se isso de janelas da oportunidade, períodos em que se poderia passar certos conhecimentos com facilidade. Feito uma janela, o interesse teria hora de abrir e de fechar. Se nos primeiros dez anos de vida, os pais não estimulassem os filhos, aproveitando as janelas, elas se fechariam de modo irreversível. Sabe-se hoje em dia que houve certo exagero no anúncio da descoberta. Os médicos atualmente acreditam que o assunto tem de ser visto de maneira mais cuidadosa. 

"É perigoso falar em abrir e fechar de janela, como se depois a criança não conseguisse aprender mais ou aprendesse com extrema dificuldade, o que não é verdade", explica o neurologista Luiz Celso Vilanova, da Universidade Federal de São Paulo.

Créditos: REVISTA VEJA




Ai que vontade de morder !!!!!

As  Famosas Mordidas dos Berçários


             O primeiro contato da criança com o mundo é através da via oral. A criança leva à boca tudo o que encontra, para morder. É assim que os bebês identificam os objetos, experimentando a sua textura, forma, tamanho e peso.
As mordidas ocorrem com frequência na creche, mais nos berçários e são muitas vezes um problema difícil de contornar em crianças de um a três anos. A mordida entre crianças dessa idade, nem sempre provém de um intento agressivo.

              Ela, pode morder outra criança, como uma forma de exploração ou pelo simples prazer de observar a reação de susto da outra. Pode também usá-la, como uma forma de comunicar. Sem saber expressar-se verbalmente, algumas crianças no momento da disputa de brinquedos ou objetos mostram-se explosivas e arranham, empurram ou mordem. Outras choram, atiram-se ao chão ou puxam cabelos, tudo para demonstrar que estão descontentes com alguma situação.

               Os pais das crianças com este tipo de comportamento, devem evitar fingir morder como forma de brincadeira ou expressão de carinho. Os filhos imitam a brincadeira, porque é agradável, com os amigos da creche. Porém, eles não sabem fingir a mordida e magoam os colegas.


               Vale lembrar que são todos inocentes. Tanto a criança que agride através da mordida, quanto à criança que é agredida. Tanto os pais que ficam angustiados e defendem os seus filhos, quanto a  escola que se depara com a situação e que se sente completamente impotente.

                     A situação da mordida, deve ser tratada com tranquilidade, esclarecendo a criança sobre a dor provocada por esta. É importante saber que as mordidas deixarão de existir quando a linguagem estiver desenvolvida, a partir dos dois anos. Cada criança é diferente da outra, e vive uma realidade distinta, que precisa ser analisada em conjunto pelos pais e educadores. A principal resposta para tal circunstância é dar atenção, carinho e amor à criança, pois a sua vida futura e o seu crescimento depende disso.
            
Algumas estratégias para estas situações:
  • Ensinar o colega a cuidar (passar gelo, fazer carinho) no colega que mordeu.
  • Comunicar e orientar sempre os  pais sobre o  ocorrido.
  • Não revelar aos pais o nome do colega que mordeu.
  • Evitar os rótulos e apelidos tipo chamar a criança que esta nesta fase de mordedor.
  • Estar sempre atentos com cuidados redobrados até que passe a fase.

Blog: Palmo e meio.

LIVROS DESDE O BERÇO






              A leitura é também uma forma bastante rica do brincar. Os livros, desde os mais simples, trazem um número muito grande de informações à criança, em forma de figuras, cores, texturas, sons, letras, números, formas geométricas e cheiros, enfim, todo tipo de estimulação necessária ao bom desenvolvimento intelectual da criança. Além disso, cada vez mais eles trazem riquíssimas ilustrações que também estimulam a criatividade da criança.
            Desde os primeiros meses, é importante colocar livros, de plástico ou tecido, no meio dos brinquedos do bebê, para que comece a se familiarizar com estes. Às vezes não percebemos, mas os bebês têm uma capacidade muito grande de observação do mundo à sua volta, e provavelmente já terão visto o papai, a mamãe ou sua babá lendo livros ou folheando revistas, e nos surpreenderão sabendo manuseá-los muito cedo.
            Os livros servem, num primeiro momento, para que o bebê tenha acesso a estímulos variados; adiante, vão servir para que escute o adulto contar-lhe histórias, que por mais simples que sejam, lhe ajudarão a começar a relacionar as figuras com seus nomes, ampliando seu vocabulário. Mais adiante um pouco, a criança aprende a conhecer a existência das letras. Aos poucos, ela vai se dando conta que estas se juntam formando as palavras que o adulto lê, o que já é um início do processo de alfabetização. Já alfabetizadas, o livro é fonte inesgotável de conhecimento e fantasia para a criança.
            Os livros têm a função fundamental de formar o imaginário da criança, dar-lhe a oportunidade de "viajar", abre lacunas que são preenchidas por cada uma a seu jeito. Além disso, são objetos de formação para elas! Elas experenciam através do que lêem, aprendem, se formam e se transformam, podendo assim modificar o mundo também. São companheiros que a criança pode levar a qualquer lugar, indispensáveis e insubstituíveis.
            É preciso, porém, ter cuidado com o tipo de material do livro que será dado à criança pequena. Existem livros apropriados para cada faixa de idade, que não oferecem riscos de machucar o bebê ou de ser estragados. As crianças até aproximadamente três anos não devem manusear livros de papel sozinhas, pois não têm ainda a coordenação motora fina necessária, e este material pode ferir seus olhos, além de rasgar com facilidade. Existem livros de tecido, de plástico para o banho e ainda livros de folhas duras e grossas, mais resistentes.




            As crianças maiores já podem receber materiais mais elaborados, além de livros-brinquedo que exercitam sua criatividade. Aos poucos, elas vão começando a criar histórias, decorar pequenos textos, fingindo saber ler, até que aprendem de fato. Neste momento todo um mundo novo se abre para elas.
            Não existe uma técnica certa para a leitura de livros para as crianças. O adulto apenas precisa ter disposição para dar mais esta atenção a elas. Cada um descobre a sua própria maneira de explorar melhor a hora da leitura. Aos poucos, o leitor vai perceber que também se beneficia do que vêm escutando: até os adultos retiram lições dos contos infantis. É muito importante que o adulto escolha livros que também a encantem, só assim o levará com entusiasmo para a criança.
            As fábulas como "A cigarra e a formiga", " A tartaruga e a lebre", "A cegonha e a raposa" , por exemplo, são histórias antigas, que sempre trazem uma lição àqueles que as escutam. São muito importantes para a formação do caráter da criança. É fundamental que o leitor comente com a criança ao final, ajudando a firmar as lições que elas trazem. Da mesma forma, os contos clássicos como "O soldadinho de chumbo", "Chapeuzinho vermelho", "Os três porquinhos" e tantos outros precisam ser comentados, procurando sempre observar qual a compreensão da criança à história, estimulando assim seu raciocínio e capacidade de observação.
            Do ponto de vista das emoções, os livros podem contar histórias que falam do dia-a-dia da criança ou de hábitos, lugares e situações, nos quais ela começa a se reconhecer pouco a pouco. Falam também de sentimentos como amor, carinho, proteção, cuidado, inveja, raiva, ciúmes, medo, entre outros, ajudando a criança a compreender melhor as coisas que sente.
            Os adultos perceberão que a criança geralmente pede que lhe seja contada a mesma história muitas vezes seguidas, e que, se mudamos alguma coisa no texto, isto logo é percebido pela criança, que corrige ou se irrita. Isto acontece porque elas adoram a repetição: ela ajuda a criança a compreender melhor os sentimentos que aquela história despertou nela. Por exemplo, em "João e Maria", a criança é levada a lembrar do medo de ser abandonada pelos pais, que todas sentem, e que lhes causa grande ansiedade. Através da repetição do conto, aquelas emoções vão sendo experimentadas, melhor compreendidas e elaboradas através do final feliz.
            Existem livros que ajudam os adultos a esclarecer as dúvidas das crianças com mais facilidade, falando sobre situações novas como nascimento de irmãos, perda de dentes, entrada na escola, dúvidas a respeito de educação sexual e até mesmo sobre situações difíceis como hospitalizações e morte. As crianças costumam se identificar com os personagens principais e sentem-se aliviadas com os finais felizes e em perceber que não são as únicas a enfrentar situações mais complicadas.
Muito importante ainda é estimular a criança a criar suas próprias histórias, usando a imaginação. Ela só conseguirá fazê-lo após ter aprendido o bom hábito de ouvir as histórias contadas por um adulto.             
            Logo compreende a estrutura da narrativa: como inicia, se desenrola e termina uma história, e então passa a conseguir dar seu próprio conteúdo. Desta forma, falará de seus sentimentos e das coisas que são importantes para ela naquele momento, dando pistas do que lhe vai na mente.
            Finalmente, um bom hábito a ser adaptado à rotina da criança pode ser a "hora do conto", geralmente útil quando chega a hora de ir para a cama. Serve para acalmar os ânimos, abaixar as energias e incentivar a ida para a cama, que geralmente acontece sob protestos. Cada família adaptará a sugestão da forma mais conveniente, mas geralmente funciona deixando a criança folhear uns poucos livros por alguns minutos, sozinha ou na companhia de irmãos, o que ajuda a criar o bom hábito da concentração, assim como o da independência. Então, passado algum tempo, o adulto (geralmente a mãe ou o pai, que a esta altura podem querer estar fazendo isto pessoalmente) lê a estória que a criança escolher. Mais adiante, a criança alfabetizada pode começar a ler para o irmão menor, estimulando a amizade ou então ler sozinha ou para os pais o livrinho que tiver escolhido. É preciso compreender, no entanto, que este hábito é saudável, desde que não seja imposto e nem rígido, podendo se modificar de acordo com o interesse da criança. 
CRÉDITO: CRIANÇA EM FOCO





John Dewey - Democracia e Educação


Foto: Dewey é o nome mais célebre da corrente filosófica que ficou conhecida como pragmatismo Nossa conclusão essencial é que a vida é desenvolvimento e que o desenvolver-se, o crescer é a vida. Traduzindo em termos educacionais equivalentes, isto significa: 1º) que o processo educativo não tem outro fim além de si mesmo: ele é seu próprio fim; e que 2º) o processo educativo é um contínuo reorganizar, reconstruir, transformar. (DEWEY, 1936 p. 75).


1. Introdução

Nas aspirações e reflexões sobre educação é comum deparar-se com preocupações como: a necessidade de unir teoria e prática nos processos de ensino-aprendizagem; valorizar a capacidade de pensar do aluno; preparar os alunos para questionar a realidade. Tais preocupações perpassam as tematizações e concepções de John Dewey (1859-1952), pensador que influenciou educadores de várias partes do mundo. Ele desenvolveu sua obra nos EUA durante a última metade do século XIX e primeiro do século XX. Dewey presenciou momentos políticos e econômicos – como o fim da Guerra Civil Americana, o desenvolvimento tecnológico, a Revolução Russa e a crise de 1929 – que por certo influenciaram sua filosofia educacional. Dewey também foi influenciado pelo experimentalismo das Ciências Naturais (o qual aplicou ao método filosófico e à didática) e acabou por ser um dos principais contribuidores da divulgação dos princípios da Escola Nova; movimento que teve seu auge no Brasil com a publicação do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova em 1932.

Desta forma é possível afirmar que Dewey é o nome mais célebre da corrente filosófica que ficou conhecida como pragmatismo, embora ele preferisse o nome instrumentalismo – uma vez que, para essa escola de pensamento, as idéias só têm importância desde que sirvam de instrumento para a resolução de problemas reais. No campo específico da pedagogia, a teoria de Dewey se inscreve na chamada educação progressiva. Um de seus principais objetivos é educar a criança como um todo. O que importa é o crescimento – físico, emocional e intelectual.

Dos muitos escritos de John Dewey tratar-se-á aqui de sua obra “Democracia e Educação – uma introdução a filosofia da educação”. O livro Democracia e Educação tem publicação em 1916, sendo composto de 26 capítulos conforme seguem: Capítulo 1 Educação como uma necessidade da vida; Capítulo 2 Educação como função social; Capítulo 3 educação como Direção; Capítulo 4 Educação como Crescimento; Capítulo 5 Preparação, desdobramento e disciplina formal; Capítulo 6 Educação conservadora e progressiva; Capítulo 7 A Concepção Democrática da Educação; Capítulo 8 Objetivos na Educação; Capítulo 9 Desenvolvimento Natural e Eficiência Social como aspirações; Capítulo 10 Interesse e Disciplina; Capítulo 11 Experiência e Pensamento; Capítulo 12 Pensamento na Educação; Capítulo 13 A natureza do método; Capítulo 14 A natureza do assunto; Capítulo 15 Brincar e Trabalhar no Currículo; Capítulo 16 O Significado de Geografia e História; Capítulo 17 Curso de Estudo em Ciências; Capítulo 18 Valores educativos; Capítulo19 Trabalho e lazer; Capítulo 20 Estudo intelectual e prática; Capítulo 21 Estudo Físico e Social: Naturalismo e humanismo; Capítulo 22 O indivíduo e o mundo; Capítulo 23 Aspectos da Educação Profissional; Capítulo 24 Filosofia da Educação; Capítulo 25 Teorias do Conhecimento; Capítulo 26 Teorias da Moral.

Nesta apresentação serão esboçados os conteúdos do capítulo I ao capítulo VI. A guisa de introdução é importante salientar que o livro “Democracia e Educação” é considerado uma das obras fundamentais na produção bibliográfica do pensador John Dewey, por desenvolver teses inovadoras sobre a filosofia, o pensamento reflexivo e a escola como instrumento de transformação social e, conforme ventilado anteriormente, influenciará no pensamento escolanovista brasileiro e em especial os postulados do educador brasileiro Anísio Teixeira.

Esta obra versa sobre filosofia da educação em conceitos de uma educação democrática onde o conhecimento e o seu desenvolvimento são concebidos como um processo social – integrando os conceitos de "sociedade" e indivíduo . Para Dewey, em Democracia e educação, o indivíduo somente passa a ser um conceito significante quando considerado parte inerente de sua sociedade – enquanto esta nenhum significado possui, se for considerada à parte, longe da participação de seus membros individuais.

2. Capítulo – Educação como Necessidade de Vida

O capítulo I de Democracia e Educação abre as reflexões da obra com um apelo a identificação da vida com os processos de renovação e transmissão afirmando que “a distinção mais notável entre os seres vivos e inanimados é que os primeiros se conservam pela renovação” (DEWEY, 1936 p.19). Talvez seja por isso que o autor irá denominar este capítulo com o título epigráfico “A Educação como Necessidade de Vida”. Observa-se já no título que Dewey evoca a vida para falar de educação e assim compara o processo educativo ao desenvolvimento da bios . Esta comparação é explícita no resumo do capítulo onde o autor sintetiza da seguinte forma: “A educação é para a vida social aquilo que a nutrição e a reprodução são para a vida fisiológica” (DEWEY, 1936 p. 29).

Este capítulo é dividido em três blocos de assuntos e mais o resumo. Os blocos de assuntos são sumariados da seguinte forma: 1) A renovação da vida pela transmissão; 2) Educação e comunicação; 3) O papel da educação formal.

Quando Dewey trata da renovação da vida pela transmissão, embora haja a comparação entre a vida em termos biológicos e da vida em termos das relações sociais, revela uma relação entre a continuidade/renovação da vida por intermédio da ação sobre o ambiente . Neste sentido ele apela ao sentido de sobrevivência e, portanto, a própria continuidade da vida. Ele estende os conceitos e emprega o termo experiência para designar “vida” relacionada a “costumes, instituições, crenças, vitórias e derrotas, divertimentos e ocupações” (DEWEY, 1936 p. 20). Assim ele aplica a concepção de renovação da vida através da transmissão da experiência. “Com o renovar da existência física, também se renovam, no caso dos seres humanos, as crenças, idéias, esperanças, venturas, sofrimentos e hábitos” (DEWEY, s.d.: 20). Neste sentido, a educação é a salvaguarda desta renovação e, portanto, da própria “continuidade social da vida” (DEWEY, 1936 p. 20).

A garantia desta renovação se dará na transmissão, por meio da comunicação. Dewey trata desta questão em Educação e Comunicação, onde frisa a necessidade de ensinar e aprender para a existência social. “A sociedade não só continua a existir pela transmissão, pela comunicação, como também se pode perfeitamente dizer que ela é transmissão e é comunicação.” (DEWEY, 1936 p.23) Desta forma ao mesmo tempo em que a vida social exige o ensino e aprendizagem para sua renovação ela mesmo se torna educativa, pois o processo de viver juntos educa. Neste sentido a educação passa então a ser vista como uma experiência de compartilhar experiências, mediado pela comunicação .

Uma vez que a educação se dá no processo de relação social cabe a pergunta sobre o lugar da educação formal (terceiro e último bloco deste capítulo). Dewey não se olvida desta questão e fala sobre a educação informal e incidental – que ocorre naturalmente nas relações sociais – e a educação formal e intencional – que visa à formação. Neste ponto há a tentativa de justificar o papel da escola enquanto instituição educativa formal. Como afirma Dewey:

Sem essa educação formal é impossível a transmissão de todos os recursos e conquistas de uma sociedade complexa. Ela abre, além disso, caminho a uma espécie de experiência que não seria acessível aos mais novos, se estes tivessem de aprender associando-se livremente com outras pessoas, desde que livros e símbolos do conhecimento têm que ser aprendidos. (DEWEY, 1936 p. 27).

Assim cabe a escola uma tarefa difícil, a de manter o equilíbrio entre as experiências adquiridas nas relações sociais e as experiências aprendidas na própria escola. Dewey culmina o capítulo alertando para este fato comum das sociedades industrial e tecnologicamente desenvolvidas: “Este perigo nunca foi maior do que nos tempos atuais, em vista do rápido desenvolvimento, nos últimos poucos séculos, dos conhecimentos e espécies de aptidões técnicas” (DEWEY, 1936 p.29).

3. Capítulo 2 – Educação como Função Social

O capítulo II de Democracia e Educação dá continuidade às reflexões da relação entre educação e vida social e eleva o papel da educação para além da ação de transmitir conhecimento; neste capítulo Dewey apresenta a Educação como Função Social. Nas palavras de Dewey: “Neste capítulo trataremos em linhas gerais do modo pelo qual um grupo social conduz os imaturos à sua própria forma social.” (DEWEY, 1936 p. 39).

Este capítulo é dividido em quatro blocos de assuntos e mais o resumo. Os blocos de assuntos são sumariados da seguinte forma: 1) Natureza e significação do meio; 2) O ambiente social; 3) O meio social como fator educativo; 4) A escola como ambiente social.

No primeiro bloco encontra-se uma formulação clássica de que o conhecimento transmitido aos mais jovens é circunstanciado pela ação do meio ambiente em que vive. Assim o meio consiste em condições que promovem ou dificultam as experiências do indivíduo e seu modo de proceder e agir; isto “porque a vida não significa mera existência passiva” (DEWEY, 1936 p. 32).

No segundo bloco Dewey passa a destacar a importância do ambiente social como espaço para realização/troca entre companheiros que estão ligados no exercício de atividades comuns, com ênfase, neste sentido, para a relação e dependência social. Da mesma forma como anteriormente fora destacado a influência do meio ambiente sobre o indivíduo, agora Dewey desta a influência do grupo e, portanto, do meio social para a formação dos hábitos e das próprias relações sociais.

Desta forma, o meio social é tratado em seu aspecto educativo, assunto do terceiro bloco deste capítulo. De acordo com Dewey “nossas faculdades de observar, recordar e imaginas não funcionam espontaneamente, mas são movidas pelas exigências impostas pelas ocupações sociais habituais.” (DEWEY, 1936 p. 38).

Contudo, à medida que a sociedade se torna mais complexa, é necessário perceber um ambiente social especial a fim de distinguir a ação educativa como ato casual do meio e a escolha intencional do meio como instrumento educativo. Dewey afirmará, no quarto bloco e, portanto, encerrando este capítulo que este meio social, especialmente preparado para influir na direção mental e moral dos que o freqüentam é a escola (DEWEY, 1936 p. 40). Ele ainda estabelece três funções importantes da escola, enquanto meio social educativo:

(...) simplificar e coordenar os fatores da mentalidade que se pretende desenvolver; purificar e idealizar os costumes sociais existentes; criar um meio mais vasto e melhor equilibrado do que aquele pelo qual os imaturos, abandonados a si mesmos, seriam provavelmente influenciados. (DEWEY, 1936 p. 44).

4. Capítulo 3 – A Educação como Direção
No capítulo III de Democracia e Educação, Dewey passa a tratar da educação, especialmente o ensino, como ação diretiva e denomina propositalmente este capítulo de Educação como direção. Dewey trata a questão da educação como direção sob os aspectos da orientação e ordenação traduzindo a idéia de que o ato educativo ocorre através de cooperação das capacidades dos indivíduos guiados em uma determinada linha contínua. Dewey não descarta aqui os termos controle e estímulo, mas prefere o sentido de direção.

Este capítulo é dividido em quatro blocos de assuntos e mais o resumo. Os blocos de assuntos são sumariados da seguinte forma: 1) O meio como fator de direção; 2) Modalidades de direção social; 3) A imitação e a psicologia social; 4) Algumas aplicações a educação.

O autor abre o capítulo, no primeiro bloco, afirmando que por natureza os jovens não se harmonizam com os padrões sociais já construídos pela vida adulta. Entretanto, tais padrões sociais construídos e o próprio ambiente servirão como estímulos para o desenvolvimento de atividades dos mais jovens. Como estes estímulos por si só não são suficientes faz-se necessário a direção por meio da orientação e ordenação afim de que as atividades dos mais jovens respondam a ordenação do ambiente social.

Dewey continua esta reflexão e exemplifica através de modos de direção social, assunto do segundo bloco deste capítulo. Ele afirma que os adultos são naturalmente conscientes de seu papel na direção\orientação\controle do comportamento dos mais jovens. Entretanto, indica que esta direção não é pessoal, mas intelectual, ou seja, a direção ocorre quando os hábitos são participados e compreendidos. Conforme salienta Dewey:

Quando as vão para a escola já possuem juízo – têm conhecimentos e aptidões para julgar, aos quais se pode recorrer por meio do uso da linguagem. Mas estes juízos nada mais são que os hábitos coordenados de reações inteligentes que anteriormente foram necessárias para o uso das cousas em relação com o modo por que as outras pessoas usavam. Esta influência é inevitável; dela se impregnam as atitudes mentais. (DEWEY, 1936 p. 56).

No terceiro bloco Dewey fala da direção educativa discutindo imitação e psicologia social onde crítica o simples ato da imitação no processo educativo. Ele apela para o sentido de psicologia social justificando mais uma vez a importância das relações e da disposição mental em compreender as atividades onde os atores estejam envolvidos e, portanto, a formação de certa mentalidade que os torne participantes de tais atividades.

No quarto bloco deste capítulo – algumas aplicações a educação – Dewey sintetiza a proposta do capítulo na seguinte fala:

A essência da direção social é esta compreensão comum dos meios e dos fins. Ela é indireta, ou sentimental e intelectual, e não direta ou pessoal. Além disso, é disposição intrínseca da pessoa e, não, externa ou coercitiva. O fim da educação é conseguir esta direção interna por meio da identidade de interesse e compreensão. (...) Para sua plena eficiência, as escolas precisam de mais oportunidades para atividades em conjunto, nas quais os educandos tomem parte, a fim de compreenderem o sentido social de suas próprias aptidões e dos materiais e recursos utilizados. (DEWEY,1936 p. 64)


5. Capítulo 4 – A Educação como Crescimento

O quarto capítulo de Democracia e Educação, A educação como crescimento, irá abordar as condições e implicações do crescimento com destaque que a capacidade de crescer é decorrente da necessidade dos outros e o poder de aprender (plasticidade) e que ambos têm seu auge na infância e adolescência. Por isso, mais uma vez a importância da educação, pois a sobrevivência da sociedade “dependerá em grande escala da direção dada anteriormente a atividade infantil” (DEWEY1936 p. 65).

O capítulo é dividido em três blocos de assuntos e mais o resumo. Os blocos de assuntos são sumariados da seguinte forma: 1) Condições de crescimento; 2) Os hábitos como manifestações do crescimento; 3) A significação educacional do conceito de desenvolvimentos.

Ao falar sobre as condições para o crescimento, no primeiro bloco, embora Dewey parta de que a primeira condição para o crescimento é a imaturidade, deixa claro que emprega o termo referindo-se a uma força ou aptidão positiva e não uma lacuna ou ausência. Sendo assim, insta para a importância do cuidado com a infância como momento oportuno para se adquirir novas aptidões e conhecimentos. Como ele mesmo destaca:

A crescente complexidade da vida social requer cada vez mais prolongado período de infância para se adquirirem as necessárias aptidões; e prolongamento de dependência corresponde a prolongamento da plasticidade ou faculdade de se adquirirem novos e vários modos de direção. E, em conseqüência, maior impulso ao progresso social. (DEWEY, 1936 p. 70)

No segundo bloco ele continua a tratar da plasticidade da criança, ou de aprender com a experiência e a conseqüente formação de hábitos. Deixa clara a crítica aos maus hábitos ou a simples repetição. Recorre então ao sentido dos hábitos para o que ele chama de fins humanos, ou seja, hábitos que auxiliem o indivíduo na adaptação ao seu ambiente social. Desta forma irá classificar os hábitos em passivos (na atividade orgânica com o meio, fornecendo, portanto, base para o desenvolvimento) e hábitos ativos (condições para readaptar a atividade a condições novas, portanto, constituindo o próprio desenvolvimento).

Quando Dewey trata da significação educacional do desenvolvimento, no terceiro bloco, ele estabelece uma simbiose entre educação e desenvolvimento, como se ambos passassem a constituir uma relação tão intrínseca a ponto de se tornarem uma só e, portanto, uma característica da própria vida. Ele conclui o capítulo evocando a relação entre desenvolvimento e educação nos seguintes termos: “O desenvolvimento não tem outro fim a não ser ele próprio. O critério do valor da educação escolar está na extensão em que ela suscita o desejo de desenvolvimento contínuo e proporciona meios para esse desejo.” (DEWEY, 1936 p. 79).

6. Capítulo 5 – Preparação, Desdobramento e Disciplina Formal.

Depois de tratar a educação como um processo contínuo de desenvolvimento, Dewey passa a trabalhar, no quinto capítulo – Preparação, Desdobramento e Disciplina Formal – a educação voltada para o presente do educando, para isso faz críticas a modelos educativos que tratam a criança como candidato a vida adulta. Ele ainda insiste na sua argumentação de que a educação enquanto processo de desenvolvimento não consiste na idéia de preencher um vazio ou uma lacuna.

O quinto capítulo é dividido em três blocos de assuntos e mais o resumo. Os blocos de assuntos são sumariados da seguinte forma: 1) A educação como preparação; 2) A educação como desdobramento; 3) A educação como o adestramento das faculdades.

Na primeira da parte do quinto capítulo Dewey inicia sua crítica ao processo educativo que tenta perceber a educação como preparação a fases futuras da vida. A crítica não se acentua no aspecto da preparação em si, pois argumenta que a preparação ocorre naturalmente em qualquer processo educativo uma vez que o futuro é inevitável; mas antes sua crítica recai no aspecto de se querer transformar “essa preparação no real esforço presente” (DEWEY, 1936 p.82). Argumenta ainda que o desenvolvimento não é algo que se completa em alguma fase da vida, mas que este “é um contínuo conduzir para o futuro” (p. 82). Desta forma, insta seus leitores a se aperceberem da importância de investir as energias na educação presente tornando esta experiência mais rica e significativa possível. Como o presente inevitavelmente se transformará em futuro significa que cuidando do presente se estará também garantindo o futuro.

Dewey continua sua crítica aos modelos educativos que, a seu ver, trabalham equivocamente o sentido de desenvolvimento. No segundo bloco deste capítulo ele passa então a criticar a educação enquanto desdobramento. Segundo a percepção da educação como desdobramento o desenvolvimento é apenas um movimento para atingir-se uma determinada plenitude. Neste sentido, o ser é visto como possuindo faculdades latentes que ainda não foram exteriorizadas, sendo que o desenvolvimento é apenas um meio de exteriorizar tais faculdades. Uma vez exteriorizadas elas irão desdobrar-se em capacidades e realizações. Observa-se que neste bloco Dewey, além de criticar tal modelo de perceber o desenvolvimento, dialoga criticamente com Rousseau, Froebel e Hegel.

No terceiro bloco Dewey passa agora a tecer críticas e considerações a respeito da teoria da disciplina formal. Segundo Dewey (1936) esta teoria “tinha em vista o ideal legítimo de que o resultado do processo educativo seria o criarem-se aptidões especiais para as realizações". (p. 88). Neste sentido o processo educativo seria de adestramento por meio de repetição de algumas faculdades inatas. Dewey ainda acentua que, da mesma forma como a preparação e o desdobramento, a disciplina formal trata o processo e ação educativa como algo exterior e indiferente ao desenvolvimento e continua a insistir que não deve haver cisão entre desenvolvimento e educação.

7. Capítulo 6 – Educação Conservadora e Progressiva

No sexto capítulo Dewey passa a tratar educação concebida retrospectivamente (conservadora) e prospectivamente (progressiva). Para isso isto irá tratar de teorias em que, a seu modo de ver, a educação e o processo de desenvolvimento não serão vistos como aperfeiçoamento ou desdobramento. Ao tecer considerações sobre educação conservadora e progressista o autor destaca a relação entre ambas e afirma que: “(...) pode-se considerar como o processo de adaptar o futuro ao passado, ou como utilização do passado como um dos recursos para o desenvolvimento do futuro.” (DEWEY, 1936 p. 110).

O sexto capítulo é dividido em três blocos de assuntos e mais o resumo. Os blocos de assuntos são sumariados da seguinte forma: 1) A educação como formação; 2) A educação como recapitulação e retrospecção; 3) A educação como reconstrução.

Na teoria da educação como formação, conteúdo do primeiro bloco do sexto capítulo, o espírito é formado, como salienta Dewey na apresentação da teoria, através do ato educativo externo por meio da instrução. Neste sentido, dá-se importância exagerada aos métodos e a figura do instrutor, denominado por Dewey como mestre-escola. Dewey critica esta teoria apontando sua fragilidade em desprezar a contínua relação entre atividades inatas e materiais do ambiente social.

O segundo bloco pode ser sintetizado na seguinte apresentação da teoria da educação como recapitulação e retrospecção, segundo a crítica apresentada por Dewey:

Uma combinação particular das teorias do desenvolvimento e da formação efetuados do exterior para o interior deu origem a teoria da educação como recapitulação biológico e cultural. O indivíduo desenvolve-se, mas seu conveniente desenvolvimento consiste em repetir em estágios ordenados a evolução passada da vida animal e da história humana. (DEWEY, 1936 p. 101).

Dewey ainda afirma que a teoria da educação como recapitulação e retrospecção teve pouca adesão, encontrando apenas refúgio nos continuadores da escola de Herbart (principal nome histórico da teoria da educação como formação).

Ao tratar da educação como reconstrução, no terceiro bloco do capítulo seis, Dewey estabelece a concepção de que a educação é um constante reorganizar ou reconstruir da experiência. “Ela tem sempre um fim imediato, e, na proporção em que a atividade for educativa, ela atingirá esse fim – que é a transformação direta da qualidade da experiência.” (p. 106). Assim ele aponta para o chamará de definição técnica da educação, ou seja, a educação como reconstrução e reorganização da experiência a fim de dirigir as experiências posteriores.

Ele conclui o sexto capítulo com uma reflexão e resumo do que tratou nestes seis primeiros capítulos. Segundo Dewey:

As idéias sobre a educação expostas nestes primeiros capítulos resumem-se formalmente na concepção da continua reconstrução da experiência, concepção que se distingue da educação como preparação para um futuro remoto, como “desdobramento”, como formação externa e como repetição do passado. (DEWEY, 1936 p. 110).


REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA
DEWEY, John. Democracia e Educação. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1936.
CUNHA, Marcus Vinicius da JOHN DEWEY: democracia e educação, capítulos essenciais. São Paulo, Ática, 2007.

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